ENSINO UNIVERSITÁRIO E A FANTÁSTICA FÁBRICA DE FAZER OTÁRIOS

quarta-feira, 17 de abril de 2013

Ensino Universitário e a Fantástica Fábrica de Fazer Otários


Minha vida como estudante foi um verdadeiro desastre.
Estudei em mais ou menos uma dúzia de diferentes colégios particulares, durante os períodos do 1º e do 2º grau.

Nunca cheguei a ser oficialmente “expulso” de nenhuma escola, mas as diversas vezes que insistiam em chamar minha mãe ou algum parente para conversar sobre meu “comportamento” e minhas “notas”, davam sempre a entender um certo “convite” para que eu me retirarasse ou fosse ir “procurar minha turma”, caso insistisse em não adequar meu comportamento e minha “sede de conhecimentos” a grade curricular e protocolos sociais inspirados e sustentados por tais instituições.



Aos 7 anos de idade,ainda que meu intelecto não havia entendido perfeitamente toda aquela situação, minha intuição sim já havia compreendido a imensa estafa e mentira que está por detrás do nosso sistema de ensino a nível mundial e graças a essa precoce percepção intuitiva, deixei de me preocupar com minhas “notas” e com o que as pessoas “achavam de mim” por causa delas. Jamais tirei um 10, me contentei em ser um aluno “medíocre” não por estar identificado com esse sentimento, mas sim por perceber claramente que teria de passar por aquilo de maneira “tranquila”, para o quanto antes estar livre daquela obrigação.
Terminei o 2º grau com muito esforço em uma escola supletiva onde eu, apesar dos anos de repetência, era o sujeito mais novo da classe, que estava recheada de pessoas na faixa dos 40 anos que há muitos anos haviam abandonado os estudos para poder trabalhar e se sustentar. Aos 16 anos de idade comecei a trabalhar com cinema com os alunos da Esola de Cinema da Fundação Armando álvares Penteado (FAAP). Aos 18 anos ingressei no curso universitário de Comunicação Social com pretensões de fazer o curso de Rádio e TV.
Quando sai da escola para a Universidade pensava que encontraria no ambiente universitário a liberdade que  não tinha condições de ser expressada na mentalidade infantil do convívio escolar. Mas uma vez que a partir do segundo semestre universitário, comecei a “estagiar” e ter um maior convívio com a “mentalidade do mercado” fui aos poucos despertando para o processo de “adequação mental” que ambos os ambientes, universitário e profissional, promoviam através de “crenças”, “comportamentos”, “regras” e toda uma lista de coisas com as quais os estudantes, futuros profissionais do mercado, deveriam estar familiarizados caso quisessem “penetrar” e então “sobreviver” naquele “hedonista” e faraônico mundo do “show bussiness” da comunicação que são as agências de publicidade, as emissoras de televisão, o jornalismo e o mundo da produção de eventos, que era onde nós estudantes teríamos de buscar “emprego”.
Segundo a “mentalidade universitária” o mundo é fruto de uma “explosão sem sentido” chamada “big-bang” que pôs todo o universo em evolução expansiva e que durante milhões de anos criou isso que somos hoje e tudo isso voltará a se contrair num único ponto quando essa expansão do universo cessar. O ser humano é uma entidade material física sem “espírito” ou qualquer outro tipo de corpo anímico-energético, uma “evolução do macaco” que não chega a usar 10 por cento de sua capacidade cerebral mas que é “evoluído” o suficiente para dominar e destruir o próprio planeta onde vive mantando outras espécies e curiosamente, matando a própria espécie também.
Das coisas que me marcaram a memória durante a passagem da adolescência para a juventude, duas eu me lembro bem: O “Alistamento Militar Obrigatório” e o “Vestibular”.
O “Alistamento Militar Obrigatório” era ridículo. Você tinha que acordar cedo, para enfrentar uma fila onde oras depois você iria “se alistar” nas “forças” armadas, para depois quem sabe “ser soldado” ou simplesmente “jurar a bandeira” e ir pra casa. As duas coisas eram patéticas mas eram rápidas e simples. Eu estava disposto a não ser soldado caso fosse chamado mas me livrei no excesso de contingente. Depois foi só “jurar a bandeira” mas confesso que fiquei calado observado os jovens que repetiam os dizeres que um militar fardado os mandava repetir diante da bandeira nacional.
O “sistema vestibular” foi percebido como uma forma intelectual de se aplicar a crueldade. Como um ritual macabro que todos que desejem ter alguma formação, devam se sujeitar de forma inquestionável. Sempre me pergutei por que o ensino não era livre e para todo e qualquer um que desejasse ter. Qual é o sentido de submeter as pessoas a um sistema como o “vestibular” uma vez que mais de 80 por cento de todas aquelas informações tratadas em provas, jamais serão usadas na vida prática daqueles que querem ser “estudantes”. O sentido pelo menos naquele brasil que eu vivia, era deixar claro que o ensino gratuito universitário de qualidade, era apenas para os estudantes de colégio particular que de maneira alguma jamais necessitassem ou quisessem “trabalhar” e “estudar” ao mesmo tempo. Que os pobres com raras excessões deveriam permanecer distante do conhecimento. Que “decorar”, “imitar”, se “corromper”, seriam sempre formas mais garantidas de “subir na vida” do que criando, sendo “justo”, “honesto”, simples ou apenas “Si Mesmo”.
Passado o trauma e humilhação do “vestibular” existe ainda um trauma maior que a universidade cria que é a tentativa direta e indireta de padronizar e monopolizar a expressão do conhecimento afirmando sempre um conceito materialista existencialista a respeito da essência humana. É importante lembrar que o formato de ensino universitário e escolar que temos hoje não mudou muito desde quando foi criado no auge da idade média, é algo essencialmente religioso, elitista, monarquista, racista, classista, “de direita”, com raízes históricas e formação em uma época em que esse conhecimento “universitário” era guardado por monges e padres que detinham os pergaminhos e livros de todas as melhores bibliotecas já existidas e esse conhecimento era reservado para os filhos das Elites que os enviavam aos grandes centros de ensino que eram os gérmens e embriões disso que conhecemos hoje como “Universidade”.
Essas Elites realmente não criaram esse sistema para dar conhecimento e formação ao povo, mas sim para “educar” e “adequar” seus filhos. Se o povo hoje pode acessar ao ensino e formação universitária é muito mais pelo fato de o  ”Ensino” ter se transformado num grande negócio, do que pela qualidade da formação e dos conhecimentos oferecidos por essas instituições e empresas.
Ainda que com todos os “computadores” e com todas as “tecnologias” que as universidades colocam a disposição de seus alunos para que eles “estudem”, o conteúdo das matérias e grade curricular das universidades em geral, são em verdade “cartilhas” de ensino que cada vez mais devem adequar as mentes, conceitos e as sensibilidades dos estudantes para que eles desejem participar de um mundo de consumo gerido e sustentado por corporações multinacionais que nos agrilhoam em seus sistemas de créditos e finanças. 
Onde os grandes câmbios sociais, as revoluções e revoltas políticas sejam para sempre coisa de um passado cada vez mais distante, impossíveis de acontecer, pelo menos com a participação dos que dentro da universidade estão. 
Esse trabalho de doutrinação mental e bestificação do individuo feito pela universidade não seria completo sem o trabalho de lavagem cerebral feito pelos televisores e pela grande imprensa tanto impressa como rádio-televisiva. 



Os meios telejornalísticos são promovidos pela doutrina universitária como grandes oportunidades de “futuros empregos” e fonte de grandes “verdades” que são consumidas pelo grosso de seus empregados, frequentadores e estudantes como reportagnes e “furos jornalísticos”. 

Querendo ou não a universidade é a estrutura que serve para adestrar as pessoas a se tornarem “membros pacíficos da classe média”. É desnecessário dizer e afirmar que um diploma não é comprovação nenhuma de experiência ou competência e que muitas pessoas formadas com diploma acabam se descobrindo em áreas totalmente diferentes de suas formações.
Mas enfim, pensemos, o que tem em comum todas essas pessoas que acreditam no poder de conhecimento propagado pelas universidades? Elas não conseguem pensar fora daquele padrão mental materialista. Elas usam muito pouco a própria intuição. Elas não conseguem entrar em contacto com o lado direito do cérebro, mesmo que elas façam o curso de “artes”, elas terão de adequar a sua “arte” as necessidades de sobrevivência e aos ditamês do “Deus-Mercado” e pior, elas acreditam de verdade que não podem fazer nada para mudar essa (e outras)realidade e permanecem com a eterna crença de que vivem num “sistema evoluído” por que podem eleger “políticos” para isso.
Aquilo que parece a reunião da evolução de todo o conhecimento já existido é em verdade uma máquina de doutrinação e adequação (Me vem a mente exatamente aquela imagem dos estudantes sendo jogados dentro da máquina de moer carne, do clipe do pink floyd)que patrocinada por igrejas, governos ou em troca do dinheiro de quem esteja disposto a pagar (no caso das universidades particulares), vende diplomas da mesma maneira que os bispos decadentes do império romano do oriente, vendiam indulgencias e lugares ao céu. O céu que os padres e bispos ofereciam aos seus ignorantes fiéis, hoje é vendido nas universidades para os jovens que buscam algum tipo de “formação” nesse formato de “felicidade-consumista” made in classe média e rede globo.
Creio que o Ensino Universitário mais do que ser reformado, necessita da participação social. Necessita ter as portas abertas para todo e qualquer um que deseje ter conhecimento. Necessita abolir o sistema vestibular e reinventar as formas de ensinar.
Que Deus Abençoe a Todos,
fonte: 



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